Volume XIX
Número 1 – 2014
Um dos temas de maior relevância no cenário evangélico brasileiro atual é a eclesiologia. Como o nome já indica, tem a ver com a igreja cristã, sua definição, ministérios, finalidades e sua missão. Este número da revista Fides Reformata traz artigos voltados para a igreja e aspectos a ela relacionados. Esse tema também foi escolhido em vista da ocasião especial que enseja o lançamento deste número, que é a reunião do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Todos os artigos e resenhas foram escritos por professores residentes e visitantes do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. A revista abre com uma palavra do diretor do CPAJ sobre “A Matriz da Educação Cristã e a Missão”. Aqui, Mauro Meister defende que toda a educação cristã realizada pela igreja deve se fundamentar nas Escrituras, desde a educação escolar até a educação teológica, apontando para a missão como um alvo de toda educação.
Um grande desafio enfrentado pelas igrejas históricas no presente, que é a evasão de membros, é tratado por Alderi Matos no artigo “Não Deixemos de Congregar-nos: Enfrentando o Problema da Evasão de Membros”, onde ele se propõe a discutir essa questão dos pontos de vista histórico e bíblico, sugerindo, ao mesmo tempo, medidas que podem ser tomadas para atenuar essa dificuldade. Da minha parte, apresento um artigo tratando do crescente movimento apostólico no mundo e no Brasil, que defende um modelo de governo da igreja baseado na restauração do ofício apostólico. O artigo, intitulado “Os Precursores do Moderno Movimento de Restauração Apostólica”, procura mostrar que a busca de um modelo de governo eclesiástico centralizado na figura de um apóstolo é bastante antiga e tem raízes no movimento gnóstico do século 2º. O artigo também oferece uma crítica bíblica às pretensões desse movimento.
A polêmica sempre recorrente em torno da continuidade entre a igreja do Antigo Testamento e a do Novo é retomada por Daniel Santos no artigo “A Plantação da Igreja no Éden”, que procura demonstrar que é possível pensar numa igreja no sentido mais pleno da palavra ainda no período do Antigo Testamento, já mesmo a partir do Éden. Filipe Fontes enfrenta a questão da Teologia da Missão Integral ou TMI. No seu artigo, “Missão Integral ou Neocalvinismo: Em Busca de uma Visão mais Ampla da Missão da Igreja”, Fontes oferece uma crítica bíblica e teológica ao movimento da TMI e sugere, como melhor alternativa, a visão do neocalvinismo holandês, movimento originado nos séculos 19 e 20, sob a liderança maior de Abraham Kuyper.
Heber Carlos de Campos escreve sobre “A Presença Real de Cristo na Ceia no Pensamento de Calvino”, tratando, assim, da nossa participação na Ceia, aspecto crucial da vida da igreja cristã. Nesse artigo, Campos descreve o pensamento dos três grandes reformadores sobre o tema, Lutero, Zuínglio e Calvino, com ênfase no pensamento deste último. Ele lembra que “a presença real de Cristo na Ceia foi o ponto nevrálgico da grande controvérsia eucarística entre luteranos e reformados no tempo da Reforma do século 16”.
Uma das questões cruciais relacionadas com a igreja cristã é o correto entendimento da sua essência e natureza. Heber Carlos de Campos Júnior nos oferece uma resposta no artigo “Em Busca de uma Eclesiologia Reformada: A Natureza da Igreja conforme as Confissões”, no qual, conforme o próprio título já indica, apresenta o que ele chama de “a essência da eclesiologia reformada”, que se encontra encapsulada na expressão “comunhão dos santos”. Em seguida, ele descreve os quatro atributos da igreja (una, santa, católica e apostólica) à luz de distinções importantes (organismo x organização, visível x invisível). O artigo se impõe contra visões e conceitos eclesiológicos modernos que perdem de vista a riqueza da eclesiologia reformada.
Em “A Igreja e sua Confessionalidade”, João Alves dos Santos retoma a discussão em torno da máxima “Igreja reformada sempre se reformando”. Como compatibilizar esse conceito reformado com a ideia de uma confessionalidade estável? Neste artigo, Alves oferece uma resposta a essas perguntas à luz das Escrituras e da própria experiência da igreja ao longo de sua história. O autor defende a necessidade da manutenção da confessionalidade bíblica como fundamento da vida e missão da igreja de Cristo neste mundo.
Outra questão bastante atual relacionada com a igreja é a necessidade de sua organização e institucionalização. Movimentos às vezes chamados de “emergentes” ou “desigrejados” contestam a necessidade das igrejas organizadas. No artigo “Identidade e Organização da Igreja na Teologia de Paulo”, Leandro Antonio de Lima aborda a questão da organização da igreja na teologia do apóstolo Paulo, numa comparação com diversos pressupostos organizacionais vistos nas igrejas modernas. Em suas próprias palavras, “a hiperorganização de muitas igrejas modernas se afasta do padrão do Novo Testamento, assim como o padrão desorganizado das igrejas emergentes”.
Já nas questões mais práticas que afetam diretamente a vida das igrejas locais e seus membros, João Paulo Thomaz de Aquino escreve sobre o divórcio. Seu artigo, “1 Coríntios 7.10-11: Divórcio entre Cristãos?”, é uma análise da conhecida passagem bíblica e das diferentes interpretações da mesma, concluindo que o cristão peca em caso de divórcio por motivo outro que não o adultério e aprofunda o pecado caso se case com outra pessoa.
Valdeci Santos responde às perguntas “Sua Igreja Necessita de Revitalização? Como Saber?” num artigo em que aborda o assunto a partir de referenciais bíblicos, visando minimizar a confusão existente sobre esse assunto. Dois livros sobre a igreja são resenhados de maneira detalhada. Emilio Garofalo Neto examina Igreja diária: comunidades do evangelho em missão, de Steve Timmis e Tim Chester, e Hermisten Maia Pereira da Costa analisa O imperativo confessional, de Carl Trueman.
Nosso desejo é que esta edição de Fides Reformata contribua para uma melhor compreensão da natureza da igreja de Cristo, sua missão e seus desafios atuais.
Dr. Augustus Nicodemus Lopes
Editor