Volume XV
Número 2 – 2010
Este número de Fides Reformata traz contribuições de quatro professores residentes ou visitantes do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (João Paulo Thomaz de Aquino, Hermisten Costa, Frans Leonard Schalkwijk e Wadislau Gomes), bem como de vários estudantes, ex-estudantes e outros colaboradores (José Carlos Piacente Júnior, Hélio de Oliveira Silva, Marcos Campos Botelho, Carlos Antonio Valentim e Elizabeth Gomes). Os onze trabalhos incluem seis artigos, um texto especial e quatro resenhas. Os artigos têm duas contribuições na área bíblico-teológica, duas na área filosófica e duas na área histórica.
O primeiro artigo, de teor exegético, investiga a natureza da conhecida passagem de Atos 6.1-7, cuja interpretação divide os estudiosos. Depois de apresentar os argumentos de pesquisadores recentes, a maior parte dos quais nega que a referida passagem diz respeito ao diaconato, João Paulo Thomaz de Aquino utiliza uma série de considerações exegéticas e canônicas para defender o entendimento tradicional, ou seja, de que Atos 6 registra, sim, a instituição do ofício diaconal. No outro texto de cunho bíblico-teológico, Hermisten Costa aponta a estreita relação existente entre a teologia e a piedade, entre a reflexão e a vida prática, com base nos ensinamentos do reformador João Calvino. Longe de ser um exercício meramente acadêmico e intelectual, o labor teológico deve estar comprometido com Deus, com sua Palavra e com a edificação da igreja.
No primeiro dos artigos no âmbito da teologia filosófica, José Carlos Piacente Júnior considera as contribuições de três pensadores cristãos. Partindo da epistemologia de Agostinho de Hipona, ele mostra seus desdobramentos e aperfeiçoamento na teologia de João Calvino e aponta como o legado de ambos se refletiu na “epistemologia reformada” de Alvin Plantinga, que postula o caráter básico e inato da crença em Deus. No outro artigo, Marcos Botelho ressalta a necessidade de que a fé reformada estabeleça pontos de contato com o pensamento secular como estratégia apologética contra os ataques da cultura pós-moderna. Especificamente, ele argumenta que muitos pensadores seculares têm elaborado críticas ao ceticismo, subjetivismo e relativismo presentes no idealismo hermenêutico e defende o realismo hermenêutico, com seu entendimento do caráter objetivo e da veracidade da revelação bíblica.
Os dois artigos de natureza histórica abordam aspectos relevantes do protestantismo no Brasil. No primeiro, Hélio de Oliveira Silva faz uma análise documental introdutória sobre as atitudes dos presbiterianos em relação à escravidão nas duas décadas que precederam a abolição da escravatura. Ele argumenta que, embora as manifestações antiescravagistas desse grupo tenham sido limitadas, elas foram as mais significativas entre todas as denominações protestantes da época. Em seu artigo, Carlos Valentim faz uma análise do famoso clássico O Brasil e os Brasileiros, no qual o Rev. James C. Fletcher expressa curiosa ambiguidade em relação ao projeto norte-americano no Brasil, defendendo ao mesmo tempo a evangelização e o estreitamento das relações comerciais entre os dois países.
Após os artigos, está incluído um breve texto de autoria do Rev. Frans Leonard Schalkwijk, no qual esse especialista sobre o Brasil holandês analisa um trágico episódio da época do domínio batavo – o massacre de Cunhaú, no Rio Grande do Norte (1645), perpetrado pelos índios tapuias. Em sua cuidadosa argumentação, ele demonstra não ser fidedigna a “história oficial” de que o massacre foi ordenado pelas autoridades holandesas e teve a participação de um pastor calvinista. Esta edição é concluída com úteis resenhas de quatro obras: Teologia dos Reformadores (Timothy George), Aconselhamento Cristão (Gary Collins), O Fascismo Moderno (Gene Edward Veith Jr.) e The Poisonwood Bible (Barbara Kingsolver).
Desejamos a todos uma agradável e proveitosa leitura.
Alderi Souza de Matos, Th.D.
Editor assistente