A igreja reformada alemã


O movimento reformado teve início, em Zurique, na Suíça alemã. Seria natural que em pouco tempo chegasse ao país vizinho, a Alemanha. Todavia, somente mais tarde isso veio a acontecer, uma das razões para tanto tendo sido a forte presença do luteranismo no Sacro Império Germânico. A Reforma em Estrasburgo, liderada por Martin Butzer (1491-1551), teve relações amistosas com os reformados suíços. O próprio Calvino ali viveu três anos felizes e produtivos (1538-1541). Todavia, em 1548 Butzer (Bucer) foi forçado a deixar a cidade, passando os seus últimos anos de vida na Inglaterra. Após a Paz de Augsburgo, o luteranismo foi solidamente estabelecido em Estrasburgo. Sob a liderança do príncipe Filipe, o território de Hesse, mais ao norte, também recebeu influências reformadas. Em 1529, Lutero e Zuínglio haviam se encontrado no famoso Colóquio de Marburg, no qual concordaram em catorze pontos doutrinários, mas divergiram com relação à Ceia do Senhor. Após a Paz de Augsburgo, as influências reformadas foram igualmente suprimidas.

 

A região da Alemanha que recebeu maior influxo da fé reformada foi o Palatinado (Pfalz), a nordeste de Estrasburgo, sob a liderança do príncipe Oto Henrique e do seu sucessor, o eleitor Frederico II (1559-1576). Este governante afirmou a Confissão de Augsburgo (luterana), como exigia a Paz de Augusburgo, mas também convidou teólogos reformados para se fixarem no Palatinado. Entre eles estavam Zacarias Ursino e Gaspar Oleviano, os principais autores do Catecismo de Heidelberg (1563). Esse notável documento, que uniu elementos reformados e um luteranismo melanctoniano moderado, tornou-se não só a confissão de fé desse território, mas a mais importante declaração doutrinária da Igreja Reformada Alemã. O catecismo é constituído de 129 perguntas e respostas, cuja seqüência é baseada na epístola aos Romanos. Possui três partes: (a) Nosso pecado e culpa; (b) Nossa redenção e liberdade; (c) Nossa gratidão e obediência. Seu tom caloroso e pessoal, seu caráter bíblico e prático e seu propósito conciliador têm feito dele um documento grandemente apreciado, sendo adotado por muitas igrejas reformadas em diferentes países.

 

Após a morte de Frederico II, o luteranismo foi restabelecido no Palatinado, mas no reinado de seu filho João Casimir (1583-1592) a fé reformada foi adotada novamente. No século XVII e início do século XVIII, os reformados do Palatinado sofreram intensamente devido a guerras e repressão religiosa. Em 1727, muitos deles foram para a América do Norte, liderados por George Michael Weiss. Em cinco anos, quinze mil refugiados do Palatinado já haviam se estabelecido em vários pontos da Pensilvânia, onde organizaram a sua própria igreja. Na Alemanha, outras comunidades reformadas surgiram em Nassau, Bremen, Wesel, Brandemburgo e diferentes regiões através do país. Em 1817, por ocasião do terceiro centenário da Reforma Protestante, algumas igrejas territoriais luteranas e reformadas formaram confederações, arranjo esse que subsiste até os dias de hoje. Uma das primeiras igrejas protestantes do Brasil foi a Comunidade Evangélica Alemã-Francesa, fundada no Rio de Janeiro em 1827, que uniu conscientemente luteranos e calvinistas em uma só comunidade de fé e adoração.