Declaração Sinodal de Berna (1532)


A Reforma foi introduzida na cidade e no cantão de Berna em 1528, através de um debate público promovido pelas autoridades civis no qual foram aprovadas as Dez Conclusões ou Teses de Berna. Essa foi a primeira formulação do tipo suíço de fé reformada que obteve aceitação além dos limites de um único cantão, exercendo influência em partes da Suíça e do sul da Alemanha.

 

Quatro anos mais tarde, em 1532, controvérsias surgidas entre o governo e os pregadores levaram à realização do Sínodo de Berna, que reuniu 230 pastores – todo o clero da região. O reformador da cidade, Berchtold Haller (1492-1536), buscou o apoio de Estrasburgo, que respondeu através de Wolfgang Fabricius Capito (1478-1541). Capito, cujo sobrenome de nascimento era Köpfel, havia ficado viúvo em 1531 e no ano seguinte casou-se com a viúva do reformador Ecolampádio, de Basiléia. Ele e Martin Bucer foram os compiladores da Confissão Tetrapolitana (1530). Agora, atendendo ao apelo de Haller, Capito redigiu a Declaração Sinodal de Berna, também conhecida como o Consenso de Berna ou Artigos e Admoestações do Sínodo de Berna.

 

Esse importante documento confessional reformado é composto de 45 longos parágrafos sobre questões de doutrina e ordem eclesiástica, repletos de citações bíblicas. O texto tem a forma de uma instrução de pastores a pastores no qual se faz uma associação de teologia prática, bíblica e doutrinária. Após ser livremente adotada pelos pastores da cidade e região, essa declaração foi aprovada e promulgada pelas autoridades, que acrescentaram um prefácio epistolar. Trata-se, portanto, de uma série de instruções pastorais, não sendo um documento de natureza polêmica.

 

O final da introdução em forma de epístola afirma o seguinte: “Se qualquer coisa nos for apresentada por nossos pastores ou outras pessoas que possa nos levar para mais perto de Cristo e, no poder da Palavra de Deus, ofereça maior apoio à amizade comum e ao amor cristão do que as idéias aqui apresentadas, nós a aceitaremos alegremente e não obstruiremos o curso do Espírito Santo. Pois ele não está dirigido para trás, para a carne, mas sempre para a frente, para a imagem de Jesus Cristo, nosso Senhor”. Karl Barth comenta que essa afirmação refletia o entendimento de que as confissões eram propostas provisórias, passíveis de aperfeiçoamento ou substituição, e não autoridades finais e inquestionáveis.

 

Algumas características dessa declaração são as seguintes: é um conjunto de instruções e exortações a pastores acerca dos seus deveres ministeriais, especialmente a exposição das Escrituras; apresenta um entendimento conciliatório a respeito da Ceia do Senhor; dá ênfase a maior separação entre a Igreja e o Estado; reflete um antinomismo cristocêntrico, dando mais destaque à graça do que à lei; revelando a influência de Bucer, insiste no poder regenerador do Espírito Santo, mediante o qual o cristão é capacitado para um viver ético. O texto tem um tom emotivo que confere a todo o documento uma vivacidade e fervor não encontrados geralmente nas confissões reformadas. Isso o tornou especialmente caro ao conde Nicolau Zinzendorf e a outros membros da tradição pietista.