As dez conclusões de Berna (1528)


As primeiras confissões reformadas foram escritas na Suíça, o berço do movimento. Várias delas foram elaboradas no contexto de importantes debates teológicos que levaram à aceitação do protestantismo em diversas cidades daquela confederação. Inicialmente, a única cidade importante que aceitou a Reforma foi Zurique, sob a influência de Ulrico Zuínglio. Os governantes civis de Berna seguiram o exemplo de Zurique e convocaram um debate sobre as questões religiosas da época, que ocorreu nos dias 6 a 26 de janeiro de 1528. Entre as cidades representadas no debate estavam Zurique, Basiléia, Constança, Estrasburgo, Augsburgo e Ulm; entre os participantes, além dos redatores das teses, estavam Zuínglio, Martin Bucer (Estrasburgo) e Ecolampádio (Basiléia). O debate reuniu 350 religiosos, além de muitos homens públicos e cidadãos. Foi o maior e mais espetacular de todos os debates públicos realizados nas cidades suíças.

 

Para esse debate, o reformador local Berchtold Haller (1492-1536) e seu colega Franz Kolb elaboraram as Dez Conclusões de Berna ou Teses de Berna, que foram revisadas por Zuínglio. Este as verteu para o latim e Guilherme Farel para o francês. O debate começou quando Kolb leu a primeira tese: “A santa igreja cristã, cujo único cabeça é Cristo, nasce da Palavra de Deus e permanece na mesma, e não ouve a voz de um estranho”. Colocou, assim, o fundamento da igreja em Cristo e na Escritura. As teses seguintes abordaram os seguintes temas: a Escritura está acima das tradições humanas (2); Cristo é o único meio de salvação e satisfação pelo pecado (3); Cristo não está presente na Eucaristia de forma corpórea (4); a missa é contrária às Escrituras e uma blasfêmia contra o sacrifício de Cristo (5); Cristo é o único mediador e advogado dos seres humanos, à exclusão de todos os demais (6); não existe purgatório, sendo vãs todas as cerimônias pelos mortos (7); as imagens são condenáveis como objetos de culto (8); a Escritura não proíbe o matrimônio a ninguém; o celibato clerical é pernicioso porque conduz à impureza (9-10).

 

As teses foram aprovadas “como cristãs” pela grande maioria dos delegados e aceitas “para sempre”, devendo ser observadas mesmo “ao custo da vida e da propriedade”. Elas se tornaram um documento respeitado em uma vasta região da Suíça e mesmo além das suas fronteiras, sendo a primeira definição do tipo suíço de fé reformada a ter ampla aceitação. Os resultados mais importantes do Debate de Berna foram a introdução definitiva da Reforma nessa importante cidade e a estabilização do protestantismo suíço. A partir de 1531, Berna enviou missionários evangélicos aos territórios de língua francesa do oeste da Suíça. O mais conhecido desses pregadores foi Guilherme Farel (1489-1565), que em 1536 levou Genebra a abraçar a Reforma e no mesmo ano convenceu o jovem João Calvino a ajudá-lo naquela cidade que seria tão decisiva para a consolidação e difusão do movimento reformado.

 

Talvez a mais fundamental das Teses de Berna seja a terceira, que afirma: “Cristo é a única sabedoria, justiça, redenção e satisfação pelos pecados do mundo inteiro. Por isso confessar qualquer outro meio de salvação ou satisfação pelo pecado é uma negação de Cristo”. Documentos como esse ajudaram a dar uma clara identidade doutrinária e confessional às igrejas reformadas, contribuindo ao mesmo tempo para a trajetória do protestantismo como um todo.