A Confissão de Genebra (1536)


Poucos meses após a redação da Primeira Confissão Helvética, em Basiléia, aconteceu um fato marcante em Genebra, no extremo oeste da Suíça – a aceitação da Reforma Protestante por influência da cidade de Berna e sob a liderança do reformador Guilherme Farel (1489-1565). Pouco depois, em notável manifestação da providência divina, passou por Genebra um jovem francês, João Calvino, que havia despontado recentemente no cenário religioso europeu através da publicação da sua obra Instituição da Religião Cristã. Farel convenceu Calvino a permanecer em Genebra e auxiliá-lo na consolidação da fé reformada naquela cidade.

 

O surgimento de Calvino marcou um novo estágio no desenvolvimento da Reforma e na produção confessional reformada. No mesmo ano de 1536, Calvino participou ao lado de Farel do Debate de Lausanne, cidade próxima de Genebra na Suíça francesa. A base desse debate foram os Artigos de Lausanne, escritos por Farel. Em Genebra, Calvino compôs um pequeno catecismo para instruir os moradores, principalmente crianças e jovens, e criar maior unidade na fé reformada. Cinco anos mais tarde, após retornar da sua estada em Estrasburgo, o reformador iria reescrever e ampliar esse documento. O catecismo dividia-se em cinco partes: a primeira, referente à fé, explicava o Credo dos Apóstolos; a segunda, sobre a lei, abordava os Dez Mandamentos; a terceira, a respeito da oração, expunha a Oração do Senhor; as duas últimas tratavam da Palavra de Deus e dos sacramentos. A partir desse texto, foi elaborada a primeira Confissão de Genebra, que todos os cidadãos deviam subscrever mediante juramento.

 

Essa breve confissão, com 21 parágrafos, foi apresentada às autoridades civis no dia 10 de novembro de 1536. Não se sabe se foi escrita por Calvino, Farel ou ambos. De qualquer modo, o documento reflete os temas centrais do pensamento do reformador francês: dependência das Escrituras, ênfase na pecaminosidade humana e na necessidade da graça, e destaque à obra de Cristo. Os temas tratados são os seguintes: as Escrituras (seção 1); o único Deus e a sua lei (2-3); o homem natural (4-5); salvação, justificação e regeneração em Cristo (6-8); dependência contínua da graça de Deus, por meio da fé (9-11); a oração (12-13); os sacramentos (14-16); as tradições humanas (17); a Igreja, a disciplina e os ministros da Palavra (18-20); os magistrados civis (21).

 

Em sua estrutura, esse documento segue a Confissão de Augsburgo (luterana), pois inicialmente apresenta as convicções mais estritamente teológicas e a seguir dá ênfase a temas em disputa com os católicos. Distingue-se de documentos suíços anteriores por sua argumentação mais precisa e perspectiva teológica mais consistente. Difere da confissão luterana especialmente por sua seção sobre os sacramentos, na qual se diz que o batismo e a Santa Ceia “representam” realidade espirituais ao invés de comunicá-las diretamente. A concisão e senso de autoridade da confissão a assinalam como uma declaração de fé característica da segunda geração de protestantes.

 

A Confissão de Genebra não teve o impacto do catecismo bem mais extenso de Calvino, publicado em muitas edições a partir de 1541. Todavia, forneceu aos primeiros tempos da Reforma em Genebra uma declaração sucinta e vigorosa das convicções cristãs às quais o grande reformador dedicou a sua vida.